"A Partícula de Deus" é um bom título de livro, já empregado pelo físico e Nobel Leon Lederman para apresentar o bóson de Higgs. A referência mística, porém, só faz apequenar a descoberta anunciada ontem pelo Cern (Organização Europeia de Pesquisa Nuclear).
A confirmação da existência dessa partícula fundamental constitui um triunfo da ciência. Vale dizer, da faculdade humana de explicar o mundo apenas com observações da realidade, formulação de teorias e testes empíricos, sem apoio necessário em crenças e valores.
A teoria por trás do bóson de Higgs é o Modelo Padrão. Ele estipula um conjunto de 16 partículas, 12 delas componentes da matéria (férmions, como o elétron) e quatro portadoras de forças (bósons, como o fóton, partícula da luz).
O desenvolvimento e a corroboração do modelo ocuparam a física por ao menos meio século, com enorme sucesso. Todas as partículas previstas acabaram detectadas.
O Modelo Padrão, contudo, enfrentava problemas. Sua matemática não conseguia explicar como as partículas poderiam ter massa, coisa que se sabia possuírem. Teoricamente, viajariam todas pelo éter à velocidade da luz, imponderáveis como o lume de estrelas.
Faltava algo. Entraram em cena seis físicos -entre eles Peter Higgs, que daria nome à partícula- de três grupos de pesquisa na Escócia, nos EUA e na Bélgica.
O sexteto lançou em 1964 a hipótese de um Universo embebido em uma quinta variedade de bóson. Seriam partículas invisíveis com o poder de dotar as outras de massa, como um líquido viscoso a dificultar seus movimentos.
A detecção do bóson de Higgs dependia, porém, de imensos aceleradores de partículas, como o LHC do Cern. Essas máquinas poderosas promovem trilhões de colisões entre pedaços de átomos, na expectativa de que a análise dos estilhaços permita garimpar pepitas como a de Higgs.
Os pesquisadores do Cern se dizem convencidos de que encontraram o elo faltante -ou, pelo menos, "um" bóson de Higgs. Pode haver outros, caso em que o modelo pediria nova reforma. Assim, aos poucos, avança a ciência humana.
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