terça-feira, 14 de novembro de 2017

Platonismo não-escrito

Platonismo não-escrito


ALBERTO ALONZO MUÑOZ

Em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/7/12/caderno_especial/20.html

Sabe-se que a doutrina de Platão não se limitava ao exposto publicamente nos "Diálogos": ao lado destes havia as "doutrinas não-escritas", reservadas aos discípulos e transmitidas pela via oral. Qual o conteúdo e a relação dessas doutrinas com as expostas nos diálogos? Essa é a questão que G. Reale pretende responder.
O tema das doutrinas não-escritas representou com frequência uma dificuldade para os intérpretes de Platão. Os testemunhos antigos sempre deram maior importância às teses dos ensinamentos orais, deixando em segundo plano as doutrinas dos "Diálogos". Na maioria das vezes em que Aristóteles, por exemplo, se refere a Platão, não analisa os "Diálogos", mas seus ensinamentos não-escritos. Mas é o próprio Platão quem, paradoxalmente, afirma no "Fedro" e na "Carta 7" que o meio ideal para a transmissão da parte mais importante de sua doutrina é o ensino oral e que a escrita é um meio imperfeito de comunicação se comparado à oralidade que serve apenas para recordar a memória dos que já sabem o que ali está escrito.
Era indubitável que Platão se empenhara na divulgação oral de uma parte importante de sua doutrina. Mas os poucos materiais que permitiriam a reconstrução dessa parte esotérica de seu pensamento desestimulou a maioria dos comentadores deste século, que preferiram concentrar os esforços na análise dos "Diálogos". O mérito de Reale está em chamar a atenção para essas evidências, a fim de buscar reconstruir assim um sistema platônico novo e mais amplo.
A tentativa é ousada e bastante arriscada. Reale, contudo, está convencido de que é revolucionária para os estudos platônicos e, na primeira parte do livro, dedicará um bom número de páginas para caracterizá-la como "um novo paradigma na interpretação de Platão", proposto pela escola platônica de Tubingen, na qual se apóia.
Segundo Reale, a Antiguidade nunca deixou de dar importância aos testemunhos referentes às doutrinas não-escritas: Aristóteles primeiramente, mas também os filósofos médio e neoplatônicos as levaram em consideração nas suas reconstruções do platonismo. É apenas no século 19, com Schleiermacher, que o pensamento platônico passa a ser visto como inteiramente contido nos "Diálogos". Esse "antigo paradigma" se debateria com a "anomalia" dos célebres textos em que Platão indica que não vê com bons olhos a transmissão, pela via escrita, da parte mais importante de sua doutrina. Essa anomalia era acrescida pelos relatos de seus discípulos acerca do conteúdo dos ensinamentos orais que não repetiam simplesmente os "Diálogos", mas acrescentavam informações que ofereciam um quadro bem diverso. Alguns preferiram recusar tais testemunhos, considerando-os como incorreções ou deturpações, principalmente os provenientes de Aristóteles. Preço que Reale considera, provavelmente com razão, alto demais para ser pago.
A estratégia será, então, não apenas levar em consideração a contribuição desses testemunhos para a construção da teoria platônica, mas considerá-los como o núcleo da teoria. A segunda parte procurará descrever a estrutura metafísica deste "novo" sistema platônico, agora com a inclusão, numa posição central, dos elementos extraídos das doutrinas não-escritas. Para os que estão habituados com o "paradigma tradicional", o novo é surpreendente. Trata-se de um Platão muito mais próximo dos médio-platônicos, em que a doutrina das Formas é coroada por dois princípios -o Uno e a Díade- que produzem, por sua interação, todos os níveis metafísicos da realidade.
Para este Platão excessivamente metafísico, o Uno é, segundo Reale, o "princípio de determinação". Por participação nele, os objetos (inclusive as Formas) ganham uma definição e um contorno precisos e não deverá surpreender-nos que Reale afirme que Platão identifica, agora, o Uno e o Bem, e que ambos estejam acima da Idéia do Ser. Por sua vez, a Díade, segundo princípio supremo ao lado do Uno, representa o "princípio de indeterminação" e do Mal, ganhando ambos os princípios conotações éticas. É a matéria sobre a qual o Uno irá agir, dando uma forma determinada e um contorno preciso e, assim, originando todos os demais constituintes da realidade.
Essa doutrina dos primeiros princípios passará por dois testes textuais. Reale escolhe algumas dificuldades clássicas de interpretação da doutrina platônica dos "Diálogos" e tenta abordá-las a partir dos resultados que conseguiu. Trata-se, a meu ver, da parte mais insatisfatória do livro, na qual o autor escolhe alguns diálogos e tenta solucionar os problemas que neles encontra, recorrendo a analogias bem vagas entre as afirmações de Platão e as características, sempre muito genéricas, dos princípios primeiros de sua protologia. O leitor que se persuadir das teses de Reale poderá entretanto defender o livro, afirmando que agora, após a articulação das "bases do novo paradigma", caberá à pesquisa sobre Platão resolver esses "quebra-cabeças", cuja via de solução ele apenas pretendia esboçar. Seja como for, os comentários de Reale nesta parte, genéricos, confusos e excessivamente sumários, deixam bastante a desejar.
A última parte expõe o segundo teste de sua interpretação e enfrenta, agora com resultados bem mais animadores, a questão do papel do Demiurgo na construção do cosmo e sua relação com o Uno e a Díade. Reale centra o foco de análise nas passagens em que Platão expõe a ação do Demiurgo como sendo a daquele que introduz a "definição do Uno" na "indefinição da Díade". Como há evidências de que Platão considerava o Demiurgo como produtor tanto do mundo das Idéias quanto do mundo sensível, Reale recorrerá a uma "matéria das Idéias", análoga à matéria do mundo sensível, que o Demiurgo será encarregado de elaborar e que, mais uma vez, representa a Díade ou princípio de indeterminação. O Uno e a Díade agora entrecruzam-se, gerando toda a arquitetônica do mundo sensível e do mundo inteligível, pelas mãos do Demiurgo que os cria.
O leitor especialista certamente sairá insatisfeito e decepcionado com muitos aspectos do livro. O Platão de Reale é excessivamente metafísico, marcado por sua leitura de discípulo assumido da Escola Platônica de Tubingen, de modo que é bem magro o espaço atribuído à epistemologia, à teoria do significado, à ética ou à política, tal como a discussão bibliográfica de tudo o que não esteja em alemão ou italiano. Por outro lado, os princípios da Díade e do Uno ganham no livro um colorido tão vasto e tão pouco preciso que passam a servir para tudo -da fundamentação e criação das Formas à organização do mundo sensível. A idéia de recorrer a T. Kuhn e chamar sua interpretação de "novo paradigma" é sem dúvida exagerada, sobretudo se lembrarmos de que pelo menos desde o livro de Findlay ("Plato: The Written and Non-Written Doctrines", 1974) se vem insistindo em que as doutrinas não-escritas merecem maior cuidado do que o que lhes foi tradicionalmente destinado.
Pode parecer, pelo que eu disse, que o livro não vale a pena. Engano completo. Trata-se de uma obra séria e importante que merece ser lida com cuidado e, sobretudo, debatida. Como lembra o prof. Vaz no prefácio, o livro de Reale tem o mérito de haver conseguido colocar em primeiro plano as doutrinas não-escritas, ao lado da doutrina dos "Diálogos". É, aliás, muito louvável sua publicação em português, o que alimentará as pesquisas em filosofia antiga no Brasil. Vamos esperar, contudo, que da próxima vez o mesmo espaço dado a Reale (do qual já temos a "História da Filosofia Antiga", também lançado pela Loyola) seja partilhado com outros pesquisadores internacionais de mesmo calibre e não necessariamente do mesmo estilo.

Alberto Alonzo Muñoz é doutorando em filosofia antiga pela USP. 

sábado, 15 de março de 2014

Ubuntu 12.04 - Install Android Tools (ADB, Fastboot, ...)


Ubuntu 12.04 - Install Android Tools (ADB, Fastboot, ...)

Contents[Hide]
dropcap-ubuntu-android
If you own an Android Smartphone, you will need sooner or later to use some specific Android tools like adb or fastboot.
If you need these tools, two options are now available under Ubuntu 12.04 :
  • Install the whole Android SDK which bring these tools among may other things
  • Install some specific android-tools packages that bring only these tools
This article will explain the simple steps needed to install Android tools, including latest Android SDK on a Ubuntu Precise 12.04 workstation.
Both options have been tested to Root a Google Nexus S and to Root a Google Nexus 7.

1. Setup ADB Udev Rule

Before accessing your android device in adb mode, you need to :
  • set the device to use USB Debug
  • declare a corresponding Udev rule on your Ubuntu box
After setting the device in USB Debug mode and connecting it to a USB port, throw the command :
# lsusb
...
Bus 002 Device 059: ID 18d1:4e42 Google Inc.
This is the result for a Google Nexus 7 connected in MTP mode with USB Debug on. It gives the Manufacturer and Model ID.
Now that we have these data, we can create the udev rules in /etc/udev/rules.d/99-android.rules.
# sudo gedit /etc/udev/rules.d/99-android.rules
/etc/udev/rules.d/99-android.rules
# Google Nexus 7 16 Gb
SUBSYSTEM=="usb", ATTR{idVendor}=="18d1", ATTR{idProduct}=="4e42", MODE="0666", OWNER="your-login"    # MTP mode with USB debug on
your-login should be your Ubuntu session login.
We can now restart udev for the new rules to become operationnal.
# sudo service udev restart

2. Install Android tools Only

If you don't plan to do some development on your android device, you don't need to install the complete SDK.
One android-tools package is now available on Ubuntu quantal.
Thanks to Web8upd site this package has been ported to Ubuntu precise and is available as a PPA.
So, to install the tools, you just need to declare the PPA and install the package :
# sudo add-apt-repository ppa:nilarimogard/webupd8
# sudo apt-get update
# sudo apt-get install android-tools-adb android-tools-fastboot
The tools are now available in command line.

3. Install Android SDK

3.1. Install Oracle Java 7

To install the complete Android SDK, first step is to install latest Oracle Java 7 runtime environment.
We also have to previously uninstall OpenJDK, as it is provided out of the box with Ubuntu Precise.
Oracle Java is not available in the official Ubuntu repositories anymore because that's not allowed by the new Java license.
We will get the help of WebUpd8 PPA to install it.
The package in the PPA automatically downloads (and installs) Oracle Java JDK 7 from its official website and installs it on the computer (it works like the flashplugin-installer).
# sudo apt-get purge openjdk*
# sudo add-apt-repository ppa:webupd8team/java & sudo apt-get update
# sudo apt-get install oracle-java7-installer

3.2. Install ia32-libs

Android SDK still needs the 32bits compatibility packages to run.
So, if you are running an AMD64 distribution, you need to install the well-known ia32-libs package.
# sudo apt-get install ia32-libs
This will download hundreds of packages and take ages ...

3.3. Install Android SDK

Download Android SDK.
Extract it to one folder & from that folder run these commands :
# cd ./tools
# ./android sdk
Get the default choice and start Install xx packages.
You are now running Android SDK on your Ubuntu box.

4. Allow ADB trusted connexion

Starting from Android 4.2.2 onward, a new security feature has been introduced within ADB.
You must confirm on your device that it is being attached to a trusted computer before any dialog can take place.
This security feature need adb version 1.0.30 and above.
You can check easily your ADB version :
# adb version
Android Debug Bridge version 1.0.31
# adb devices
List of devices attached
xxxxxxxxxxxxxxx          device
If your adb version is too old you'll get :
# adb devices
List of devices attached
xxxxxxxxxxxxxxx          offline
When you will plug your Android device for the first time, it will display a message asking you to allow connexion to your computer as a trusted computer.
You need to validate the message and to select the permanent checkbox.

5. Install QtADB

QtADB is an app based on adb. It requires working  android sdk, Qt libs version 4.7, root and busybox installed on the Android device.
To use QtADB, it is very important to have your device rooted and to have installed Busybox from Google play.
After installation, you need to launch BusyBox Free and start the Install procedure using smart install.
Without these steps, half of QtADB functionalities won't work.

QtADB will allow you to :
  • have a complete access to your Android device filesystem
  • manage your installed applications
  • get some device informations (battery level, memory usage, ...)
  • take some device display screenshot
Before installing it you should install the dependencies :
# sudo apt-get install libqtgui4 libqt4-network libqt4-declarative
Then you need to get QtADB binary from http://qtadb.wordpress.com/download/.
Put the binary QtADB in a directory and make it executable.
The first time you launch it, it will ask for the directory where Android tools are installed (it depends on the fact that you used the PPA or the Google SDK).
You can now access your complete phone filesystem.
Be careful, you have the full powers !
This article is published "as is", without any warranty that it will work for your specific need.
If you think this article needs some complement, or simply if you think it saved you lots of time & trouble,
just let me know at
nicolas.bernaerts@laposte.netThis email address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it.
. Cheers !
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sexta-feira, 21 de junho de 2013

Gonzaguinha - Eterno Aprendiz

Eu fico
Com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...
Viver!
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz...
Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita...
Viver!
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz...
Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita...
E a vida!
E a vida o que é?
Diga lá, meu irmão
Ela é a batida
De um coração
Ela é uma doce ilusão
Hê! Hô!...
Mas e a vida
Ela é maravida
Ou é sofrimento?
Ela é alegria
Ou lamento?
O que é? O que é?
Meu irmão...
Há quem fale
Que a vida da gente
É um nada no mundo
É uma gota é um tempo
Que nem dá um segundo...
Há quem fale
Que é um divino
Mistério profundo
É o sopro do criador
Numa atitude repleta de amor...
Você diz que é luta e prazer
Ele diz que a vida e viver
Ela diz que melhor é morrer
Pois amada não é
E o verbo é sofrer...
Eu só sei que confio na moça
E na moça eu ponho a força da fé
Somos nós que fazemos a vida
Como der ou puder ou quiser...
Sempre desejada
Por mais que esteja errada
Ninguém quer a morte
Só saúde e sorte...
E a pergunta roda
E a cabeça agita
Fico com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...
Viver!
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz...
Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita...
Viver!
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz...
Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita...
Viver!
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz...
Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita...

AS MULTIDÕES DE JUNHO DE 2013 DIANTE DA BIFURCAÇÃO

do +Augusto de Franco  via +Normann Kallmus 

No grande swarming do dia 17 de junho de 2013 (o 17J em São Paulo, no Rio de Janeiro e em várias capitais e outras cidades do país) a violência praticada por grupos isolados (desencadeada, talvez, por agentes infiltrados, provocadores, bandidos e manifestantes imbuídos de espírito adversarial mesmo), foi lateral, pontual, pouco significativa.

Um dia antes (16 de junho) publiquei um longo texto sobre o tema, intitulado GUERRA OU PAZ?, em que chamava a atenção para esse risco da instrumentalização das manifestações por grupos que costumam adotar a tática de provocar o confronto. 

Não foi isso, entretanto, que ocorreu, nem no 17J, nem nos dias seguintes (18 e 19 de junho). A movimentação se espalhou por todo o país e, na maioria dos casos, houve violência praticada por pequenos grupos isolados e indivíduos fora de sintonia com a imensa maioria dos participantes. Em geral foram grupos e indivíduos que tentaram invadir prédios de governos e do legislativo ou que tentaram furar os bloqueios erigidos pela polícia. Esses grupos e indivíduos atuam quando as manifestações já estão no fim, em alguns casos fazendo saques, depredando e ateando fogo em viaturas, lojas comerciais, agências bancárias e, até, bancas de jornais. A maioria dos manifestantes nem presencia as cenas de violência e só fica sabendo depois, pela televisão. Em alguns casos, porém, houve conflito entre os que queriam manter o caráter pacífico das manifestações e alguns meliantes. Em São Paulo foi notável o esforço de alguns manifestantes para impedir a depredação da sede da prefeitura.

É claro que tudo isso é péssimo: tanto a violência em si, quanto a sua repercussão. Tenho afirmado que a ocupação pacífica e a festa - e não a luta rancorosa - é que podem quebrar o script da Matrix. Um comentário do Nilton Lessa a um post com esse conteúdo que publiquei ontem (19/06) no Facebook, diz tudo: "Nada seria mais revolucionário, subversivo e perturbador para o mundo hierárquico. Festejar e não lutar; conviver e não combater; mover-se e não estagnar; viver-e-morrer e não eternizar".

Cada pessoa que interage nesse grande processo social convulsivo em que estamos imersos pode ajudar a coibir a violência. Ela não será totalmente evitada, por certo, mas pode novamente voltar a ser apenas incidental, fortuita, lateral, pontual. Além de carregar cartazes e gritar, com perdão do termo, a "palavra-de-ordem" SEM VIOLÊNCIA, ajudaria muito, a meu ver, ocupar pacificamente determinados espaços públicos e fazer festas.

Ocupar espaços públicos (por exemplo, uma praça ou várias praças) é mais condizente com a natureza das manifestações do que organizar passeatas. A ocupação pode ensejar mais facilmente a auto-organização e a autorregulação dos conflitos. A passeata tem itinerário e logo aparecem pessoas e grupos querendo dirigir "a massa" para algum lugar (por exemplo, para os portões de algum palácio).

Felizmente esses aprendizes de condutores de rebanhos não têm se dado muito bem. Uma prova disso é que as passeatas em geral se bifurcam e as pessoas não obedecem muito aos que querem mandá-las seguir por determinados caminhos, às vezes até usando megafones. De qualquer modo, passeatas pressupõem sempre algum tipo de condução, de acordo prévio sobre o itinerário com a polícia. Mas aí vem o problema: quem fará tal acordo em nome de todos, considerando que as multidões que têm se reunido não estão sendo convocadas de modo centralizado nem estão subordinadas a alguma direção?

O inovador dessa movimentação incrível (e inédita) que estamos vivendo no Brasil é que ela não tem organização top down, não tem direção, foi convocada de modo distribuído P2P e com a utilização de midias interativas. Ou seja, a despeito dos sinceros esforços dos que querem convocá-los e orientá-los, os eventos estão sendo organizados pelos próprios participantes, pessoalmente ou clusterizados em múltiplos grupos que não podem ser representados por ninguém. 

O grupo que lançou o movimento pelo Passe Livre não representa a movimentação que está em curso no país, nem mesmo em São Paulo. Aliás, não existe um movimento, existem várias movimentações sintonizadas, que se sinergizam mutuamente. Essas multidões - atenção: não massas - que se aglomeram e enxameiam em todo o país não são representadas pelo movimento do Passe Livre, nem por qualquer comitê, coordenação, direção de algum movimento hierárquico. O que está ocorrendo é mais a manifestação de uma fenomenologia da interação em mundos sociais altamente conectados do que uma dinâmica participativa assembleísta que possa ser administrada e conduzida por estruturas centralizadas por meio de seus agentes (dirigentes e militantes).

Estamos diante de um fenômeno de rede. Mas parece que a ficha ainda não caiu na cabeça daquela parte da militância que tem a tara de organizar os outros e conduzi-los para algum lugar. Uma prova disso é a ansiedade para ter um foco, um pauta de reivindicações, um programa definido para negociar com os governos... Se continuar assim não tardará a surgir algum esperto propondo a criação de uma nova organização, de um comitê nacional, de comitês estaduais, de comitês municipais, e até de um novo partido (com a maior boa intenção do mundo, é claro, para não desacumular, para não desperdiçar o imenso potencial que foi despertado). 

Por tudo isso penso que estamos diante, neste exato momento, de uma bifurcação importante. Não tenho a menor ansiedade ou preocupação com a continuidade do que alguns chamam de "o movimento" e que, na verdade, são múltiplas manifestações: elas foram, são e serão o que serão. O que foi feito (não me refiro propriamente à redução do preço das passagens) já foi feito (e modificou a sociedade na sua intimidade, em profundidade maior do que podemos agora alcançar). O que será feito, será feito e acontecerá o que poderá acontecer, ao sabor dos ventos, no imprevisível fluxo interativo percorrendo múltiplos caminhos. As redes distribuídas não são instrumentos para realizar a mudança: elas já são a mudança!

O que me preocupa é a eventual criação de barreiras, filtros, armadilhas de fluxos (como o são as organizações hierárquicas) que tentem bloquear ou condicionar a livre interação: por exemplo, iniciativas que tentem erigir comitês, realizar eleições para escolher representantes, reunir assembléias para aprovar pautas, plataformas, programas e adotar modos de regulação que criem artificialmente escassez, introduzindo as inevitáveis disputas de tendências e luta de facções et coetera. Se tomarmos o ramo da bifurcação que leva a isso, começaremos a viagem de volta para algum lugar do passado.

Se tomarmos o outro ramo da bifurcação, porém, confiando na rede e nos abandonando ao fluxo interativo, continuaremos antecipando futuro no presente. Não há nada melhor do que isso. E para isso, nada melhor do que ocupar pacificamente os espaços públicos e festejar. A festa, o riso, a alegria, desarmam os hard feelings, convertem inimizade em amizade política, configuram ambientes favoráveis à colaboração (e não à competição) e questionam profundamente os esquemas de poder que estão na raiz dos males que levaram às multidões às ruas.

Se as pessoas se põem a dançar e cantar, muitos milagres podem acontecer. Até mesmo governos podem cair - mas isso está longe de ser o mais importante. Só é muito importante para quem sonha em entrar em governos. O potencial desse gigante que começou a acordar é muito maior do que isso. De que adianta entrar em governos se não se muda o velho sistema, ou seja, se se mantém o velho padrão de relação Estado-sociedade? Em pouco tempo os novos ocupantes estarão reproduzindo o mesmo comportamento que hoje condenam nos velhos atores...

O que está em jogo, neste momento, no Brasil e em vários lugares do mundo, é uma mudança mais profunda: uma verdadeira reinvenção da política ou uma nova invenção (a terceira) da democracia.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Por que Alberto Arruda?



Por que +Alberto Arruda ?

Muitos tem idéias e ideais, mas poucos conseguem por em prática. Transformar projetos em ações. O Professor Alberto Arruda, em conjunto com outros colaboradores, conseguiu tornar realidade a pós-graduação em Física na UFMT, colocando o estado de Mato Grosso na vanguarda científica nacional. Grandes nomes do cenário da física brasileira reconhecem seu trabalho através da exposição de nossas produções por meio de promoção de eventos regionais e nacionais, publicações de grande impacto e apresentações em simpósios, palestras e encontros. Além disso, o Mestrado em Física capacitou vários estudantes para fazerem doutorado em importantes instituições e hoje estes outrora alunos são colegas cujo o trabalho cientifico é notoriamente reconhecido.

Mas chegou o momento de decolar !

Para tanto, faz-se necessário abrir novas portas. Através da direção do Instituto de Física da UFMT, Alberto Arruda poderá consolidar e dar maior apoio e prioridade aos programas de pós-graduação que integram o IF. Por meio da contratação de professores, melhoria nas instalações (salas de aula, laboratório, sala de professores, auditórios, suporte técnico...), fortalecimento e racionalização da estrutura pedagógica, incentivo a divulgação científica, apoio a pesquisa, entre outras prioridades, Alberto Arruda, em conjunto com todos os membros docentes, discentes e técnicos integrantes da Instituição, pretende dar o * "Big Leap" *, o grande salto para definitivamente firmar a Física Mato-grossense como grande produtor de conhecimento científico e tecnológico.

Por tudo isso, peço seu apoio nesta segunda-feira, em nome do professor+Alberto Arruda !

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Microscópio consegue registrar ligações individuais entre átomos


Microscópio consegue registrar ligações individuais entre átomos

    Imagem feita pelo microscópio mostra molécula de nanografeno com ligações carbono-carbono de diferentes distâncias e ordem. A molécula foi sintetizada no CNRS

Pesquisadores da IBM Research, em Zurique, da Universidade de Santiago de Compostela e do Centro Nacional de Pesquisas (CNRS, francês), em Toulouse, afirmam ter conseguido usar um microscópio para registar uma imagem tão detalhada de uma molécula que mostra o comprimento e a ordem das ligações entre os átomos. O estudo, divulgado hoje, ilustra a capa daScience, da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, na sigla em inglês) de sexta-feira.
Em 1981, Gerd Binnig e Heinrich Rohrer inventaram na IBM Research (em Zurique) o microscópio de corrente de tunelamento, que permitia aos cientistas registrar e manipular átomos. Em 1986 eles levaram o Nobel pelo feito e, no mesmo ano, Binnig apresentou o sucessor da máquina - o microscópio de força atômica (AFM, na sigla em inglês), que foi usado no estudo divulgado hoje.
Não é a primeira vez que se registra a ligação química em um microscópio. Contudo, o registro do comprimento e da ordem (o número de ligações entre cada átomo - uma, duas ou três) pode levar a um avanço na criação de nanomateriais. "Nós podemos estudar essas ligações em um nível de moléculas individuais e ligações individuais agora. Isso é emocionante. Nós temos agora que ver que importantes resultados nós vamos obter com esta técnica", diz ao Terra Leo Gross, da IBM Research, um dos autores da pesquisa.
O mecanismo usa uma única molécula de monóxido de carbono (CO) na ponta de uma espécie de agulha. O CO reage à força repulsiva de outras partículas e mexe a agulha, que registra essa força com precisão. A tecnologia já é bem conhecida e usada, afirma o pesquisador. "Um AFM vai de US$ 100, feito por conta própria, a até cerca de US$ 1 milhão. Nossa máquina é feita principalmente por nós mesmos, mas similares custam na casa de meio milhão de dólares", diz Gross.
Em nota, a IBM explica que na nova pesquisa os cientistas descobriram dois mecanismos para registrar cada ligação individualmente. Primeiro, eles encontraram pequenas diferenças na força medida acima das ligações. Segundo, as ligações apareciam com diferentes ondas nas medições do microscópio. Os cientistas descobriram que as oscilações medidas eram causadas por inclinações da molécula de CO e usaram isso para deixar mais detalhado o registro.
Em uma pesquisa de 2009, o time já havia conseguido fazer a imagem das ligações entre os átomos de uma molécula, mas com bem menos precisão que as atuais. O problema eram perturbações causadas no registro. Para chegar a um detalhamento maior, os cientistas tiveram que escolher e sintetizar moléculas nas quais eles podem "tirar" essas perturbações.
Os pesquisadores analisaram as ligações entre carbono de moléculas de grafeno C60 (fulereno) e de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAH). As moléculas são parecidas, mas suas ligações químicas se diferem levemente em comprimento e força - essas diferenças resultam em todas as importantes características químicas, eletrônicas e ópticas dessas substâncias.
"Isso (o registro individual de ligações entre átomos) pode aumentar nosso conhecimento básico no nível de moléculas individuais, o que é importante para a pesquisa de novos equipamentos eletrônicos, células solares orgânicas e diodos orgânicos emissores de luz (oleds). Em particular, o relaxamento entre ligações ao redor de imperfeições do grafeno, assim como mudanças nas ligações em reações químicas e em estados excitados podem potencialmente ser estudados", diz Chris Sciacca, porta-voz da IBM Research.
Contudo, a empresa não acredita que os resultados práticos serão vistos em breve no nosso dia a dia. "Esta é uma pesquisa muito fundamental e levará muitos anos para que possamos ver algumas inovações desse trabalho no mercado", diz Chris Sciacca, porta-voz da IBM Research.